Apressei em pagar a dívida com o senhorio, o aluguel fora
atrasado em seis meses, num belo dia, cheguei cedo e dei de cara com o imóvel
lacrado, haviam trocado o segredo da porta e, grampeado à meia altura, uma
ordem de despejo, papel assinado pelo juiz Marquesini de Castro.
Não que eu não
pudesse, na calada da noite, abrir a porta, resgatar os meus pertences e sair
sem deixar pistas, isso era a minha profissão, não o fiz, por uma questão de
lógica:
O juiz havia sido um
cliente meu, um caso de adultério, pagou-me regiamente para seguir os passos da
esposa, uma dama da sociedade paulistana que, ostentava joias em público, promovia
festas de luxo e era conhecida nas altas rodas filantrópicas da cidade.
O juiz havia me dito
que, alguns horários da esposa não batiam com a agenda oficial, não que ele
desconfiasse, de fato, da dama, estava me contratando por desencargo de
consciência.
Em campo, não
demorei dois dias para desenrolar o novelo da vida secreta da madame, ela não
mantinha um caso, mantinha vários casos que, não eram tão secretos assim.
De feições agradáveis
e corpo escultural, a beleza ainda lhe favorecia aos quarenta e cinco anos e,
tendo ela, apreço ao comando, enquanto se fartava sexualmente, gritava palavras
de ordem, embaixo ou em cima deles, a sanha da mulher não conhecia preconceito,
muito embora, ela desse uma maior atenção aos sujeitos negros e fortes, não era
uma simples discrepância na agenda, muitas vezes ela chegava em casa, dois dias
depois.
Entreguei o
relatório ao juiz, com textos e explicações e, é claro, as fotos, essas
dispensavam qualquer escrita, ele me pagou a outra metade e se fechou num
canto.
Portanto, usando a
suposição, ferramenta essencial na minha profissão, ele havia perdoado a esposa
e vinha com toda carga em minha direção, faria tudo para transformar a minha
vida num inferno.
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