Não foi das minhas
melhores piadas, pensei que quebraria o gelo e como resultado nada, a moça da
sala branca não demonstrou qualquer reação, nem contentamento ou contrariedade.
Deixei-me ficar no
banco do piano, ela arrastou uma das cadeiras brancas até uma distância de quase
meio metro de mim, jogou na tampa do piano, a pasta que trazia na mão e
permaneceu sem emoções.
Tanto melhor assim,
meu preço era salgado, quanto mais séria a freguesia, maior era a garantia de
bons e regulares pagamentos.
Tomou um fôlego,
inspirou lentamente, percebi o peito cheio e, lentamente soltou o ar, o cheiro
de jasmim ainda a brindar o ar.
_Senhor Caíco, posso
chama-lo assim??
_. Sim, por favor.
A voz dela saía
segura, uma pronuncia clara de pessoas oriundas do interior de São Paulo, sul
de Minas, no máximo.
_. Vou direto ao
assunto...tenho uma cliente que promete ser a próxima Elis Regina, tem voz de
diva, tem talento e carisma para cantar, perfeita em tudo, porém...
Sempre tem um,
porém, pensei eu, de súbito a voz da minha interlocutora desceu, mesmo com a
certeza que, naquele ambiente ninguém poderia nos ouvir, ela baixou a voz num
flagrante segredo e prosseguiu:
_. Acontece que essa
moça, quando cursava a faculdade, tinha uma colega de quarto que, era mais que
uma colega, se é que o senhor me entende.... Ah, o senhor me entende, pois bem,
essa moça tirou fotos que podem comprometer a minha cliente.
_. Entendo, e essa
colega seria mesmo capaz de usar as fotos, para reivindicar uma porcentagem
financeira???
_. Se fosse a
chantagem em si, estaria sob controle, só que ela não aceita o término do caso
e já declarou que afundaria a carreira da minha cliente, por vingança
simplesmente.
_. Entendo
perfeitamente, estou à disposição, conforme disse ao telefone, assim que
acertarmos o contrato e, só mediante a isso, início o procedimento.
A moça já estava
mais à vontade, abriu a pasta e me estendeu um gordo envelope.
_. Queremos as fotos
e os negativos, se for da sua vontade dar uma lição na vagabunda, fica por sua
vontade.
Disse a última
frase, sem que eu a tivesse olhado, nesse momento eu contava o dinheiro, vendo
se completava a metade do serviço.
Lançou-me um papel
em branco com um X no fim, onde eu deveria assinar, posteriormente aquela folha
seria preenchida à máquina e, a quantia corresponderia ao dobro do que ela
havia me pago, assinei, ela retomou o papel, fez que conferiu a assinatura
e deu-me as costas.
Enquanto ela saía da
sala, levando consigo o agradável aroma de jasmim, um garçom trouxe uma taça de Champagne e uns canapés, cruzei a perna,
enfiei o envelope no bolso da camisa e me virei para o piano branco, se soubesse
tocar, tocaria alguma canção de Nat King Cole.
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