domingo, 10 de setembro de 2017

Capítulo 1 (O contrato)



  Não foi das minhas melhores piadas, pensei que quebraria o gelo e como resultado nada, a moça da sala branca não demonstrou qualquer reação, nem contentamento ou contrariedade.
  Deixei-me ficar no banco do piano, ela arrastou uma das cadeiras brancas até uma distância de quase meio metro de mim, jogou na tampa do piano, a pasta que trazia na mão e permaneceu sem emoções.
  Tanto melhor assim, meu preço era salgado, quanto mais séria a freguesia, maior era a garantia de bons e regulares pagamentos.
  Tomou um fôlego, inspirou lentamente, percebi o peito cheio e, lentamente soltou o ar, o cheiro de jasmim ainda a brindar o ar.
  _Senhor Caíco, posso chama-lo assim??
  _. Sim, por favor.
  A voz dela saía segura, uma pronuncia clara de pessoas oriundas do interior de São Paulo, sul de Minas, no máximo.
  _. Vou direto ao assunto...tenho uma cliente que promete ser a próxima Elis Regina, tem voz de diva, tem talento e carisma para cantar, perfeita em tudo, porém...
  Sempre tem um, porém, pensei eu, de súbito a voz da minha interlocutora desceu, mesmo com a certeza que, naquele ambiente ninguém poderia nos ouvir, ela baixou a voz num flagrante segredo e prosseguiu:
  _. Acontece que essa moça, quando cursava a faculdade, tinha uma colega de quarto que, era mais que uma colega, se é que o senhor me entende.... Ah, o senhor me entende, pois bem, essa moça tirou fotos que podem comprometer a minha cliente.
  _. Entendo, e essa colega seria mesmo capaz de usar as fotos, para reivindicar uma porcentagem financeira???
  _. Se fosse a chantagem em si, estaria sob controle, só que ela não aceita o término do caso e já declarou que afundaria a carreira da minha cliente, por vingança simplesmente.
  _. Entendo perfeitamente, estou à disposição, conforme disse ao telefone, assim que acertarmos o contrato e, só mediante a isso, início o procedimento.
  A moça já estava mais à vontade, abriu a pasta e me estendeu um gordo envelope.
  _. Queremos as fotos e os negativos, se for da sua vontade dar uma lição na vagabunda, fica por sua vontade.
  Disse a última frase, sem que eu a tivesse olhado, nesse momento eu contava o dinheiro, vendo se completava a metade do serviço.
  Lançou-me um papel em branco com um X no fim, onde eu deveria assinar, posteriormente aquela folha seria preenchida à máquina e, a quantia corresponderia ao dobro do que ela havia me pago, assinei, ela retomou o papel, fez que conferiu a assinatura e deu-me as costas.
  Enquanto ela saía da sala, levando consigo o agradável aroma de jasmim, um garçom trouxe uma taça de Champagne e uns canapés, cruzei a perna, enfiei o envelope no bolso da camisa e me virei para o piano branco, se soubesse tocar, tocaria alguma canção de Nat King Cole.

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